Dia #36 – Vó, vózinha minha

Hoje no rádio estavam falando de memória e que pessoas ansiosas tendem a ser mais esquecidas porque elas vivem sempre à frente, no futuro e acabam esquecendo de viver o presente. Mas esse assunto já discutimos aqui, inclusive eu sou ansiosa em excesso, não queria ser tanto, mas tento me controlar.

O problema foi que eles mencionaram o Alzheimer e do quanto é difícil para a família. O portador da doença só sofre mesmo quando ela está no estágio inicial, que ele começa a perceber que está perdendo a memória recente. Daí lembrei logo da minha vó materna, ela sofre dessa doença.

Posso dizer que essa doença é maldita ao extremo. E a família tem que ser muito paciente. O médico já indicou um livro para lermos, porque é importante que a família tem que entender da doença. Por exemplo, se ela pergunta alguma coisa e depois esquece, é importante que não mostremos pra ela que já perguntou isso, respondemos sempre como se fosse a primeira vez. Não tenho certeza, mas acho que é porque ela fica triste quando vê que já perguntou e esqueceu.

Outro dia minha vó começou a chorar comigo falando que ela tinha muito medo de acabar um dia não reconhecendo os netos e isso ia ser a maior tristeza da vida dela. Ouvi isso, engoli o choro (parecia que eu tava engolindo uma pedra), fingi que eu tava rindo e disse que nós nunca iríamos deixar ela esquecer da gente, porque somos tão chatos que ela nunca ia esquecer. Ela deu um sorrisinho e ficou quieta. Foi um dos piores momentos da minha vida e contar isso pra vocês não tá sendo muito fácil.

Esse tipo de pensamento foi levando a minha vó à depressão. Ela não tinha mais vontade de nada. Por diversas vezes já chegamos na casa dela e encontramos ela deitada olhando pro teto, com a tv em frente desligada. Quando perguntávamos o motivo, ela dizia que não queria fazer nada.

E a depressão foi levando à outras doenças e aí que comecei a perceber que minha vó não queria mais lutar pra se curar, sabe? Tinha a impressão de que ela tinha perdido também a vontade de viver. Ai, não sei!

Até que ela foi parar numa cama de hospital e nos dias em que dormi com ela (eu, minha mãe e minhas tias revezávamos no hospital) percebi o quanto estava fraquinha e triste. E a coisa mais gratificante foi um dia em que acordei no hospital e fui me arrumar pra trabalhar e ela pediu pra maquiá-la e passar perfume e depois ainda fez pose pra eu tirar uma foto e mandar pros meus primos. Alegrou completamente meu dia.

Acho que com o carinho de todos nós, ela foi se alegrando. Tá bem melhor, mesmo. Se alegra pra ir fazer comprinhas aos finais de semana. Inclusive, semana passada eu liguei pra ela e ela tava indo à uma festinha de aniversário de uma amiga. Que saidinha!

Morro de medo de perdê-la.

Autoestima de hoje: Alta

O que me detonou: Escrever esse post, foi bem difícil. Não gosto de falar esse assunto com ninguém. Me deixa desestruturada.

O que fiz de bom por mim: Ahhh, hoje é sexta, né?! O dia fala por si próprio

agosto 17, 2012. Tags: , , , , , . Uncategorized.

8 Comentários

  1. Rosa Helena replied:

    Fernanda, só nós da família sabemos o quanto foi difícil ver a minha mãe tão fraca e deprimida. Por incrível que pareça a filha que sempre foi a mais difícil, foi a que mais atuou nesse momento e o mérito em grande parte foi da sua mãe, que marcava consultas tendo que madrugar para ir ao Hospital Central do Exército. Levava para fazer todos os exames e ficou com ela durante toda a semana, já que eu e Márcia tinhamos horário a cumprir no trabalho. Sem conar que ficou com ela durante quase um mês, se não os 30 dias.

    Na verdade as visitas constantes dos netos, alegrando a vida dela ajudaram-na a recuperar da depressão e hoje me pergunto. Será que ela realmente tem Alzheimer?

    Quem leu o livro “Para sempre Alice”, e ver como miha mãe está hoje ficará em dúvida, mas por precaução, ela continua sendo tratada como tal.

    Obrigada por falar dela no dia de hoje. Te amo.

    Beijo no seu coração da sua tiadinha Rosa

  2. Renata Cavalcante replied:

    Fernanda, em abril desse ano eu perdi minha bisavó. Eu era super apegada a ela, pois foi ela quem me criou. Ela tb tinha Alzheimer e perdeu tda a alegria de viver. Qdo a doença começou e ela fazia a mesma pergunta várias vezes, eu dava várias respostas diferentes, sempre brincando e fazendo ela sorrir… É mto importante q a família esteja unida e saiba dar td carinho do mundo, pq é mto triste… Chegou ao ponto da minha bisa não mais me reconhecer…e qdo reconhecia, chorava, dizendo q não me via há mto tempo e q estava com saudades…

    Confesso q me emocionei com o q vc escreveu… sei exatamente o q vc está passando

    Bjao e força

    • nandapereirac replied:

      Rê,

      e eu me emocionei com o seu comentário. É exatamente assim.

      Não sei nem o que dizer, dá nó na garganta.

      Beijos

  3. Marcella replied:

    Olá Fernanda,

    A história da sua avó é um pouco parecida com a da minha ..
    Agosto de 2010 descobrimos que minha avó estava com um caroço no seu seio esquerdo, através de exames ficamos sabendo que aquele caroço era o começo de um câncer , que estava se alastrando pelo seu corpo inteiro .. Com o passar do tempo, minha avó foi perdendo sua memória e ja não reconhecia mais ninguém da família, seus cabelos não caíram como acontece em muitos casos de pessoas que sofrem com o câncer, mas além de não nos reconhecer ela não conseguia mais falar ..
    Isso ainda demorou um tempo pra acontecer, antes disso ainda nos divertiamos muito com ela, ela falava como uma criança, demorava pra falar, chamava as coisas por outros nomes .. como por exemplo: maquiagem ela chamava de mexirica rs ..
    Aos poucos ela foi deixando de reconhecer agente, todos chorávamos muito, foi muito triste saber que a pessoa que me criou não se lembrava mais de mim .. não sabia meu nome ..
    Até que uma vez pra minha felicidade .. ela me chamou .. meus tios ouviram e me chamaram .. aí ela pediu, assim como sua avó, que eu a maquiasse .. Isso me deixou feliz.. além de ter me chamado, pelo meu nome .. ela me pediu um favor .. que ao meu ver à deixava mais contente .. parecia que ela estava querendo se reanimar pra vida .. foi aí que ela disse : ” Que cheiro de mexirica” . A maquiagem não tinha cheiro de mexirica rs .. ” É mexirica?” ” Não vó ,não é mexirica” ” kkkkkk , é mexirica sim , você ta me enganando”. Todos caímos na gargalhada, quando ela disse : ” Que família atrapalhada “.

    No dia , 21 de Agosto de 2010, ela ja não falava mais, não conseguia abrir os olhos, resumindo não tinha forças pra mais nada..
    naquela noite ela ia ser levada ao hospital,vendo que ela não iria mais voltar pra casa, ajoelhei ao lado da cama em que ela estava e comecei a me despedir, ela tentava falar comigo , mais não conseguia ..
    Minha avó Brigida , foi levada ao hospital e veio a falecer naquela madrugada ….
    Até hoje sinto muito sua falta, ela era minha companheira, tudo o que me acontecia era pra ela quem contava , em meio aos problemas, nós diziamos que iamos fugir juntas .. Ja me aconteceu tantas coisas, nas quais precisava tanto dela pra dividir aquilo … Por isso deem muito valor as pessoas que fazem parte da sua viida ,, Por isso “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã ..”

    • nandapereirac replied:

      Marcella,

      Que linda a sua história! Fiquei com o olho cheio d’água!

      Acho que enquanto cultivar as memórias boas da sua vo, ela vai estar sempre com você. Talvez amenize a saudade.

      Beijos e muito obrigada por dividir com a gente a sua história

  4. Raphael replied:

    Nanda, post emocionante…
    Minha avó vive comigo, vc sabe… E meu maior medo é ver ela “minguando”…
    Sempre foi uma mulher forte, batalhadora… Carregou a família praticamente sozinha, pq ficou viúva muito cedo, em um país que não era o dela, etc…
    E hj ver q ela nã consegue fazer as coisas q ela gostaria de fazer é muito triste… E acho q isso vem afetando demais a cabeça dela…
    Responder a mesma coisa mil vezes é MUITO difícil. Um verdadeiro exercício de paciência… Mas, é uma coisa que temos q praticar, para transformar os dias dela em algo mais leve.

    Sinceramente, eu tenho muito medo pq essa coisa do esquecimento, sendo Alzheimer ou não, é uma coisa q faz com que a pessoa que vc ama fique cada vez mais distante, meio q inatingível…

    Minha mãe brinca q a minha avó vai esquecer de todo mundo, menos de mim, pq ela me chama até p aumentar o volume da TV dela, rs… Mas se um dia acontecer dela esquecer, não sei nem o q pensar… De verdade.

    Bjusss! E mto sucesso p sua avó!

    • nandapereirac replied:

      Rapha,

      Fico muito feliz em ver o carinho de vocês pelas avós.

      Sinto tudo isso e mais um pouquinho que você escreveu aqui.
      🙂

      Beijos

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